Nos estudos sobre gênero uma das tendências atuais mais promissoras indica que devemos pensar o feminino não como uma essência natural, mas como sendo constituído em consonância com uma estrutura que só pode ser compreendida se for contextualizada e se forem consideradas outras categorias classificatórias como classe, raça e etnia.
Segundo Judith Butler (2003: 20) “...se tornou impossível separar a noção de “gênero” das intersecções políticas e culturais em que invariavelmente ela é produzida e mantida.”
Em razão disso, uma das maneiras de compreendermos a situação da mulher negra no Brasil é nos orientarmos através dos indicadores que apontam para a sua condição sócio-econômica e ocupacional.
A observação da existência de desigualdade racial no mercado de trabalho pode ser comprovada através de dados do DIEESE, entre outros órgãos de pesquisa. Como já é mais do que sabido, os efeitos do preconceito no mercado de trabalho penalizam indivíduos negros que, em consequência, recebem rendimentos inferiores aos dos brancos.
Quando estudamos a relação gênero e raça, percebemos que o homem negro ocupa um patamar abaixo do da mulher branca quanto ao rendimento salarial. Mas as mulheres negras se encontram ainda mais abaixo na pirâmide ocupacional: recebem os menores salários mesmo que em muitos casos ocupem a chefia de sua família.
odemos concluir que as relações interétnicas entre brancos e negros expressam uma complementaridade: o preconceito e a discriminação contra as trabalhadoras negras servem para designá-las às posições mais desprestigiadas e mal remuneradas.
Por outro lado, predominam nas posições que concentram maior prestígio, poder e renda aqueles trabalhadores que mais se aproximam do estereótipo de macho branco, descendente de europeu com religião cristã.
Pode-se dizer que para a população negra a superação das situações de discriminação constitui-se em um problema que podemos associar a uma redefinição de sua própria identidade. Desde o processo da Abolição no Brasil, há 115 anos, a identidade da mulher negra passa por um processo de redefinição. Ao resistir organizadamente ela rompe com as barreiras que a circunscrevem a determinados espaços e se redescobre como cidadã.
Ao pensarmos a situação da mulher negra no Brasil atual temos que levar em consideração que em uma sociedade democrática o respeito às diferenças de raça, etnia, gênero, orientação sexual, aparência física não é abandonar cada segmento à sua própria sorte mas questionar as relações de poder que hierarquizam as diferentes posições.
Pesquisa organizada por Rejanne Soares
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